Poesia

Suami Paula de Azevedo recebeu vários prêmios por sua obra, tanto na Educação, quanto, e em especial, em Poesia. Em 1996 recebeu o maior Prêmio do estado de São Paulo (“Mapa Cultura – Poesia”, pela Secretaria de Estado da Cultura), pelo poema “Encontro I”, depois publicado não só no Brasil, como também, em duas edições, em Portugal. Este poema fez parte em 1996 de uma antologia, “Páginas e Paisagens”, com síntese de três conjuntos de seus poemas, alguns apenas publicados esparsamente em jornais e revistas.





Prêmio Mapa Cultural/1996 – Poema:


Encontro I


Talvez o teu silêncio
Debruçado sobre meus ombros grisalhos
Ou o vinho que não bebi


Sei lá
Chegaste e emudeceste-me os dedos
E os meus olhos insones
Com teu medo de chegar

De nada vale um peito
Se não te serve de pouso
Na claridade das manhãs

Não libertaste as palavras
No sorriso agridoce de criança
Em que por vezes te escondes
Mansa como chega o vendaval

Janelas devem ser abertas
Ao perfume do verão
Afasta este crepúsculo no olhar
Não te acorrentes à espera
Ela é solitária

Na angustia do não saber
Devias vir
Miúda e descuidada
Ao encontro de quem ri
Como quem vai para o mar



40 Anos de Poesia

            Só em 1997 consegui publicar em livro três conjuntos de poemas, o “Páginas e Paisagens”.  Saia já com três anos de atraso. Eram seleções feitas daquilo que me pareceu interessante dentre o que havia escrito em três décadas, a partir dos meus dezessete, dezoito anos. A seleção não era grande. 
            Queria apenas poemas líricos. Do ser e do estar, como do relacionar no mundo. Queria expressar a minha poética, a minha leitura do mundo pela poesia.
            Ali já constava o poema “Encontro I”, premiado no Mapa Cultural, importante concurso do Estado de São Paulo, de 1996 e publicado naquele ano numa antologia. Poema que foi publicado também depois, em 2002, numa antologia de edição especial em Portugal.
            Agora acrescento alguns outros novos poemas, surgidos no correr desses últimos dez anos. Antes e depois de um livro importante para mim, como foi o “Escapando das Brumas da Manhã” (2000). Os versos desse livro aqui marcam uma passagem da minha vida quando ao assumir a  minha responsabilidade política fui levado a afastar-me para longe da minha gente e da minha terra. Marca especialmente a permanente certeza de que o sol sempre volta a brilhar, por mais escura que tenha sido a noite. Marca também o meu modo de agradecer pelo reconhecimento da poesia que me expressa pela minha gente de Suzano.
É a partir da minha vila que sempre desejei alçar meu vôo. Mas ainda agora precisava trazer mais fortemente a minha mui ilustre Cidade de Suzano para dentro dos meus livros. Ela é uma insigne personagem sempre a procura de autor. Outros já a buscaram descrever, faço-o também, é o meu Canto. E justamente é com “Meu Recanto” que principio a inclusão de poemas inéditos em livro. Alguns já haviam sido
publicados em jornais e revistas ou lançados pela Internet.
Esse e alguns outros poemas dedicados à cidade de Suzano são parte de um livro maior, “Canto Mirambava”, que há anos venho escrevendo e que quero publicar num tempo futuro. Livro que não pretende ser nenhum “Canto Geral”, como o do Neruda, mas que busca tratar de múltiplos aspectos da trajetória suzanense e desse meu interminável encontro de permanentes descobertas com a Cidade. Antes disso, alguns poemas desses serão lançados num especial álbum de fotografias “Retratos de Suzano”. Anexo ainda alguns poemas de “Pelo Caminho”, uma edição especial.
Talvez possa ser interessante deixar registrado nesta Advertência que o critério que definiu a ordem de apresentação dos poemas foi basicamente o cronológico. Alguns conjuntos dos poemas mais recentes podem ser identificados por suas temáticas. Deixo ao leitor a delicadeza de outra escolha se o preferir.
Só não fazem parte desta Antologia os livros mais recentes, os pequenos “Palavras à Poesia” e “Sobre a Pele”, que neste momento estão em fase de finalização, sendo publicados em um só volume. Igualmente ainda não saem alguns poemas que formam conjuntos que por enquanto não tomei a decisão de publicar.




De Mestre a Aprendiz

Templo

Todo homem é um templo
Erguido toque a toque 
Sobre a pedra bruta

O afagar do tempo
Faz-nos crescer
No encontro justo

Das mãos que se unem
Laborando o granito
Até tornar-se polido
Até tornar-se perfeito



Página


Ela me grita
Pálida de espanto
Escreve
Escreve-me toda
Corrompe a minha beleza


E o poeta ingênuo
Em sua aspereza
Macula
Do que julga encantos
O suave papel
Com a tinta suja Dos seus versos brancos



Invenção Brasileira

Será que existo
Serei difuso
Ou sou apenas invenção
De um discurso?

De fala
De cor
De destino e desejo?

O que me faz idêntico
O que me faz diverso
Sem tamanho
Nesta explosão em que desperto?

Quando eu sou
Quando deixo o meu feito
Quando eu falo
Sou quem está no meu peito?

Ou reproduzo
O que me moldaram
Com muito jeito?



Quase Chegam os Sessenta

                              “Vai o tempo baixando talvez em meu corpo,
                                                              em teu corpo, uma rosa,
             e como um termômetro a idade da rosa desce à terra;”
                                      Os Anos (A Barcarola) – Pablo Neruda 

                                                 Agradecido cada dia

Quase chegam os sessenta
Sem o espelho se quebrar

Olho o meu filho ao lado
Tantos dizem ser como eu
Sei que ele tem a mesma angústia
De querer sempre acertar
Sabendo que erra o tanto que é seu

Querendo que o pai lhe tenha orgulho
Querendo que o acerto total
Chegue a sua mão por inteiro
Quanto esperei do meu pai

Minha filha quer apreender o mundo
Como os sonhos que já vivi
E deixo vivos a me acalentar

A mulher vê em mim ainda o garoto
Que ela escolheu o leito e os braços
E que nunca lhe negou o peito

Alguns colegas e amigos por vezes
Cismam de confiar
Que não cometa erros
(Haveria aí uma cobrança?)
Eu o mais-que-imperfeito
Ainda que pese a bondade deles
Não consigo tomar o disfarce
E desminto no meu jeito lento
Sem conseguir o modo de transformar
Num Impecável-Super-Suami
Este moreno anjo vesgo

As árvores que aqui plantei
Os versos que um dia escrevi
Do que tentei ensinar
Muito mais do que aprendi
Fica a vontade de fazer além
No tanto que há por vir

O tempo é o tempo tão só
Dos poemas a cada dia construir
O tempo de aprender
É sempre o tempo de viver a hora

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