A
Palavra “Mirambava”
(Livro:
“O Povo Mirambava”, 1997)
A palavra Mirambava traz uma carga de sabedoria que
precisa ser registrada. O nome indígena é marcante. Ele tem a conotação
romântica que a história brasileira carrega desde os anos da formação de nossa
Independência, nos primórdios do século XIX . Naquela ocasião, tomávamos dos indígenas a fonte de uma
tradição que buscávamos correspondesse à Idade Média européia, que não tivemos. Além disso, os indígenas
eram já então a representação da pureza, da verdade, da nacionalidade não
corrompida. Coincidentemente, em Suzano também estávamos nos primórdios de uma
situação equivalente a da época da formação da nossa Nacionalidade. Tínhamos há
pouco adquirido a nossa autonomia como Cidade. Precisávamos de modelos também
equivalentes. O nome Mirambava, Campos de Mirambava, era de uma significação
especial para os suzanenses conhecedores de sua história. Era o nome original do local onde situou-se o
núcleo populacional planejado com o nome tão singular e edificante de Vila da
Concórdia, às margens da Estrada de Ferro. Este nome, Concórdia, foi o
escolhido nos anos finais do século XIX, quando de sua fundação por Antonio
Marques Figueira, a 11 de dezembro de 1890, para a cidade que mais tarde se
tornaria a nossa Suzano.
A primeira
imagem que vem ligada à palavra Mirambava, como dissemos, é a expressão Campos
de Mirambava, talvez a referência mais antiga. A partir dessa expressão
somos “naturalmente” levados a imaginar uma acepção que interpretaria a palavra
como o nome de uma planta, quem sabe uma gramínea, um arbusto. Não é
suficiente, no entanto, para estacionarmos aí. Outro cuidado necessário é não
esquecermos que uma corruptela é uma variação, quase sempre de base fonética
que se liga à forma de um povo pronunciar expressões de língua ou linguagem de
outro povo. Isso não pode deixar de ser lembrado quando pensamos no que se
convencionou chamar de Dialeto Caipira, que é a manifestação de um
povo-síntese, resultante das misturas das expressões das falas de africanos,
principalmente dos povos quimbundos (Angola) e indígenas (Tupi-Guarani), que se
localizaram nas regiões dos atuais Estados de São Paulo e Minas Gerais. Há que
se lembrar também que os africanos, trazidos para cá como escravos, bem como os
indígenas, não conseguiam pronunciar todas as palavras da língua portuguesa,
que a partir de meados do século XVIII, começa a se ampliar com muita força.
Isso em razão basicamente das descobertas de ouro, que para cá fizeram vir
muitos europeus. Até essa época, a Língua Geral por aqui era mesmo o
tupi-guarani, que é um fato de história e de cultura significativo. É por tudo
isso que resultam nesse dialeto expressões ainda subsistentes como /véia/
, em lugar de velha. São marcas atávicas de uma formação que não
permitia todas as elaborações de sons na pronúncia das pessoas. Linguagem é
aquisição cultural. É por isso também que os brasileiros têm tanta dificuldade
em pronunciar o /u/ francês, que quase sempre emitimos como /i/.
Sabemos
que ainda há quem diga que Mirambava teria vindo de uma certa Maria
Ambava (ou Ambaya), que seria o nome de uma antiga proprietária de
terras do local, do antigo Bairro do
Areião, atual Colorado. “Ouvimos falar” que haveria quem possuísse
documentos que garantiriam tal afirmação. Ignoramos qualquer registro
imobiliário nesse nome na Região, em que pesem nossas buscas. Por mais que
tentássemos, não tivemos acesso a qualquer desses ditos “documentos”. Nem por
isso descartamos a hipótese. Mas
precisamos apoiar-nos em algo mais sólido do que “ouvir falar”, que também nem por isso deve ser rejeitado de
plano. Quem pesquisa deve colocar-se aberto e não fechado em concepções
preestabelecidas. O fato é que não pretendemos aqui fazer uma tese acadêmica.
Não é o espaço, mas é o caso de levantarmos hipóteses que possam ser o mais
possível razoáveis. O que encontramos está fundado também em publicação como o Dicionário
de Tupi Moderno, de Max Henri Boudin, editado em São Paulo pelo Conselho
Estadual de Artes e Ciências Humanas, em 1978. Trabalho que é uma verdadeira
obra antropológico-lingüística, baseado em pesquisas e trabalhos clássicos como
os de Batista Caetano (1879), Montoyo (1876), Von Martius (1863), Muniagurria
(1947) e Peralta e Osuño (1950). A
raridade das publicações sobre a área impõe um cuidado maior. Mas não pode
permitir o bloqueio que nos impossibilite de avançar.
A
palavra Mirambava é uma corruptela de expressão tupi-guarani, nação
indígena que habitava essa região nos anos do Brasil Colônia. Vem da construção
Mayumbará (Mayum-wara), de alcance semântico não totalmente
determinado. Levantamos para essa expressão algumas hipóteses semânticas, que
nos parecem razoáveis, as mais sólidas, ainda que prefiramos não reconhecê-las
ainda de absoluta segurança científica.
Ela seria formada pela justaposição de duas palavras: May'u, que tem
como significado: "comer coisas", e Wara, sobre a qual
levantamos algumas questões. Poderia ser o "guará", espécie de lobo
do cerrado, idéia que vemos como a mais afastada. Isso porque o lobo guará
muito raramente ultrapassava a Serra da Mantiqueira, chegando quando muito ao
Vale do Rio Paraíba. Ou poderia ainda ser o “guará”, o flamingo brasileiro, a ibis
rubra, idéia plausível para a Região. Observe-se que a palavra Guarapiranga
(Wara-pirãng), nome de uma represa de nossa Região, é a
representação tupi para esse belo tipo de garça. A garça branca é a Wara-ting.
Outra hipótese ainda a ser levantada sobre a palavra wara, mais
concretamente, sobre Wara-ita, é que ela significa "mexilhão de
rio". Sem esquecer que caranguejo é expressado por Wara-ruha. Como
a nossa área aqui sempre foi conhecida por sua imensa várzea, seus rios, suas
inundações, essa última hipótese também surge como possível e a mais forte
dentre todas. Ainda há quem lembre de pesca de camarões e de carangueijinhos de rio nas águas da
região.
Seguramente, seguindo essa compreensão, a expressão deve representar a
designação do povo que vivia na região onde hoje está Suzano. Seria o caso de
reconhecermos uma dentre as três acepções aqui levantadas: "Aqueles que
comem lobo"?, "Aqueles que comem garças"?, "Aqueles que
comem caranguejo, mexilhão ou camarão de rio"? Uma observação mais calma,
fundada em informações antropológicas, leva-nos a não ver realce na primeira
hipótese. Pois, seria um exagero termos um povo aqui reconhecido por comer
lobo, mais ainda um animal raramente visto por aqui. Na segunda hipótese, esse
povo ser reconhecido por comer garça, parece-nos pouco provável. Compreensão
que é reforçada pela força da terceira. Essa última surge-nos como natural para
a nossa condição geográfica. Assim, o povo que vivia nesta área poderia muito
bem ser reconhecido como “aqueles que comiam caranguejo de rio”. Mesmo
conscientes de que as modificações que o homem impôs no correr do tempo à
Região vão acabar por transformar suas características. Enfim, já não mais da
maneira que se reconhecia em tempos antigos, hoje nós somos o Povo
Mirambava.
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