Suami Paula de Azevedo exerceu várias atividades depois de
adulto, especialmente ao retornar ao Brasil em meados de 1977.
Formado em Direito, iniciou advogando, mas sua formação
na Europa e depois no Brasil (Letras e Animação Cultural e Pedagogia) nas áreas
de Educação e Cultura possibilitaram-lhe exercer atividades na área de Gestão
de Cultura (Prefeitura de Suzano, em 1977, e Secretaria de Estado de Cultura/SP
(1983), bem como no Magistério, inicialmente em Letras (Lingüística e
Filologia), depois em Gestão de Educação.
Em 1986 decidiu-se também pela Educação Básica,
ingressando como Docente, logo em seguida como Diretor de Escola, na Rede
Estadual/SP. Foi Professor, Diretor e Supervisor em Educação Básica. Desde 1998
é Diretor da Escola Estadual Dr. Morato de Oliveira, em Suzano, que tem
demonstrado excelentes resultados em aproveitamento de seus alunos.
Quanto ao Magistério de nível Universitário que exerceu
até aqui, não tendo obtido a revalidação de seus diplomas estrangeiros de
pós-graduação (doutorado e mestrado) defendeu nova dissertação de Mestrado,
tendo alcançado a mais alta distinção, trazendo um enfoque semiótico à Gestão
Educacional. Permanece como pesquisador do CNPq.
Desde 1986 exerce funções como sindicalista da área de
Educação (UDEMO).
Morato - 09 de julho |
Defesa Mestrado com Banca Examinadora |
Ensaios:
O que Fazemos com a Educação? - I
Permitam o título interrogativo.
Observemos alguns enfoques, para não ficarmos só nos discursos. É um bom
momento este, dos 140 anos de Escola em Suzano, em que se duvida tanto de
movimentos reivindicatórios de professores. Vamos refletir sobre o que se tem
feito com a Educação.
Observe-se este texto sobre o
Magistério: “Não é um sacerdócio: é um suicídio. Não é uma vocação, é uma
abdicação dos direitos mais rudimentares da existência. E, pelo visto, chega a
espantar que o Estado misericordioso não pensasse ainda em exigir ao professor
primário o voto de castidade perpétua, para que ele seja, em tudo, o monge
moderno. Já o é na obediência; já o é na pobreza voluntária”. Revista Educação
Nacional, 381, de 10.01.1904, Portugal (Nóvoa).
Os discursos sempre dizem que a
Educação vai mal. O “inferno são os outros”, a culpa, naturalmente, é dos
Professores.
Educação é coisa demorada, um plano de
escola dura ao menos quatro anos. Assim, quem muda projetos a cada ano será que
sabe o que está fazendo? Os professores, os alunos, a sociedade são cobaias?
Mudar várias vezes não é sinal de não se saber o que fazer? A sociedade tende a
se omitir frente a essas situações: “Não vale a pena”, costuma-se dizer.
Assim, o discurso dos governantes, o
que eles dizem, acaba sendo mais “importante” do que suas práticas, o que eles
fazem. A falta de Políticas Públicas, Políticas de Estado, acabam sendo substituídas
por Ações de Governo. E ações de governo tendem a durar o período do governo,
do mandato, ou até menos. O governante seguinte a altera com facilidade. Até
porque, muitas vezes suas ações demonstram-se de ensaio e erro.
Infelizmente, na mesma direção, até
boas medidas, aplicadas de modo desatento, autoritariamente, sem maior
discussão, sem pretensão de convencimento, sem tomada de tempo, acabam por
transformar-se em medidas nefastas. Como a boa “Progressão Continuada” que
virou a nefasta “Promoção Automática”. O ato educacional intempestivo não surte
efeito ou resulta no contrário do pretendido.
Os índices da Educação tirados de
avaliações externas não são coisas boas ou más, são apenas instrumentos, seu
uso é que nos indica a qualidade. Nem vamos discutir se o que fazemos é apenas
“Educação de Massas”, vinculada à questão mercantil, buscando a produção em
série, a reprodução em larga escala, para consumo imediato de grande quantidade
de pessoas, de modo econômico, negando a busca de aquisição, criação e
construção de conhecimento pelo alunado. Ele deve ir bem nas provas, mesmo sem
cultura, sem entender, sem “ler” o mundo? Essa “educação de massa” não nega a
aprendizagem visualizada por Paulo Freire,
inter-pessoal, necessariamente “generosa”?
E os professores, estão realmente
contentes e satisfeitos? Pois está sobejamente demonstrado que quase 50% dos
professores brasileiros apresentam sintomas de estresse ou depressão (veja
artigo de Fabiano CURI, na REVISTA EDUCAÇÃO, nº 119, que sintetiza vários estudos).
Veja-se também matéria na revista Educação e Pesquisa, da FEUSP (2005), sobre a
incidência no Brasil de licenças médicas de professores.
O que
Fazemos com a Educação? - II
Um dos males mais
comuns entre Educadores é a “síndrome do esgotamento profissional”, também
chamada “síndrome de burnout” (do inglês “burn out”), ou seja, queimar
completamente, consumir-se. Doença ligada à ocupação profissional,
principalmente dos que tratam diretamente com pessoas e demandas variadas, caso
dos Professores. Leia-se o livro “Educação: Carinho e Trabalho” (Vozes), com
pesquisa da Universidade de Brasília sobre burnout com 52 mil trabalhadores de
1.440 escolas, mostrando que, ao final da década de 90, 48% dos entrevistados
apresentavam algum sintoma da síndrome.
Celso dos Santos
Filho, médico de psiquiatria do Hospital do Servidor, em São Paulo diz que: "Há uma desvalorização
gradual do papel do Professor. Ele se sente cada vez menos valorizado, o que
afeta a prática profissional e a auto-estima" (Curi). Professores destacam
a falta de autoridade sobre alunos e de apoio institucional e das famílias dos
alunos, ampliada pelo volume de trabalho e falta de tempo para preparar aulas e
corrigir avaliações. Não esquecer que o estresse do Professor pode causar uma
seqüência de outros danos. A síndrome do trabalho nesse nível (epidemia?) não
exige a revisão das condições de trabalho do Professor?
Por outro lado,
sabemos que 70% dos resultados positivos dos alunos nas avaliações (internas e
externas) é resultado das suas condições socioeconômicas e culturais (vejam-se
estudos da Fundação Itaú Cultural e de Francisco Soares, UFMG, Inep/MEC). Como
o Professor pode alterar isso? Deus cria do nada, o professor ainda não pode
tanto, mas é cobrado. O sistema escolar, e muitos pais, querem do Professor a
cobertura dos vácuos sociais. Diz a Professora (PUC-Campinas) e Psicóloga
Marilda Lipp que: "ao mesmo tempo em que os pais desvalorizam os
Professores, passam a eles a responsabilidade de educar os filhos" (Curi).
Qual Educador é
contra o princípio da avaliação? Provas podem servir também de verificação das
condições do pessoal, de todos os setores, claro. No entanto, qualquer
Professor sabe que só uma prova escrita não avalia bem ninguém. Como apoiar uma
prova escrita tomada como exclusivo parâmetro para definir aumento de salário
que couber no orçamento definido pelo governante? Isso revelaria um melhor
profissional? Ou mostraria alguém que domina teoria, não necessariamente a
prática na gestão da aula, da escola ou do sistema escolar básico? Isso pode
melhorar o quê na Educação da sociedade?
Por que se aumenta a
centralização das decisões tão distantes da Escola? Isso afasta os dispositivos
da LDB que indicam a descentralização e a progressiva autonomia administrativa,
financeira e pedagógica. Sabe-se que quem nada decide, só obedece, acaba se
desestimulando da prática educativa? Quem é apenas tarefeiro, executor, não
deve pensar, deve tudo aceitar, sem discutir? Escolas públicas não são
confiáveis? É esse o objetivo do Magistério?
Gastar mais significa
gastar bem? Aumento de gastos sempre reverte em benefício dos profissionais,
dos alunos da Escola, da sociedade? Centralização não desperdiça? O único valor
é econômico?
Que jovens
qualificados procuram hoje o Magistério como carreira? Sabe-se que pela faixa etária dos atuais
profissionais, entre cinco e dez anos, teremos uma falta deles em números
monumentais, que afetará profundamente toda a realidade da Educação do Brasil.
Vamos aposentá-los mais tarde?
Já tratei disso tudo em
livro (“Ética Profissional no Magistério”, Mirambava), mas ainda vale lembrar.
Essa é a Educação que queremos? Por que o fazemos?
Artigos:
A Dinâmica da Gestão
Escolar
Resumo: A
partir do experimento de Gestão Democrática Participativa realizado na Escola
Estadual Dr. Morato de Oliveira, que atende alunos do Ciclo I, de 1a
a 4a séries do Ensino Fundamental, na cidade de Suzano, região da
Grande São Paulo, SP, de 1998 a 2002, o artigo teoriza sobre a Gestão Escolar.
Nesse experimento destacam-se em tríade: Equipe, Planejamento e Qualidade como
elementos imprescindíveis à própria gestão. Ainda destacam-se: o Processo
Participativo e o Envolvimento da Comunidade, como pontos intrínsecos ao tipo
de gestão proposto, o Democrático-Participativo. Assim, o artigo expõe essas
reflexões que descrevem a compreensão teorizada de uma gestão que se realizou
em termos práticos num período de quatro anos. Observe-se ainda que a prática
permanece em curso.
Palavras-Chave: gestão
escolar, equipe, planejamento, qualidade, comunidade.
Este texto é a teorização básica de uma experiência
de Gestão Democrática Participativa desenvolvida de 1998 a 2002 na Escola
Estadual “Dr. Morato de Oliveira”, em Suzano, SP. Trata-se de uma escola que
trabalha com o nível denominado pelo Sistema Escolar Paulista de “Ciclo I”,
correspondendo às 1a a 4a séries do Ensino Fundamental. A
prática ainda continua em
curso. As reflexões e o relato mais aprofundado sobre o
experimento realizado estão ainda inéditos. Um resumo foi publicado em partes
durante meses no Jornal “O Diretor”, órgão oficial da UDEMO, Sindicato dos
Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo.
A
base teórica com que buscamos trabalhar na Escola segue uma tríade: Equipe,
Planejamento e Qualidade. Iniciamos um processo, por isso mesmo não está
encerrado, está em
construção. Permanente construção, que é renovada a cada ano,
pela própria característica da Escola, como instituição.
Vejamos os aspectos teóricos de
nosso entendimento e depois, os passos que fomos dando na direção de nosso
desiderato, de construir uma Educação melhor em escola pública.
1.
Questão de Dinâmica
- equipe, planejamento e qualidade
A Escola é uma
instituição necessariamente dinâmica. E essa característica implica em mobilidade.
Principalmente para a realização de seus propósitos. E os
seus propósitos primeiros e últimos têm como objeto de atenção e objetivo de
realização o aluno. E por tudo isso a escola exige que sua Gestão seja
igualmente dinâmica. A dinâmica da gestão da escola está fundada em três
pilares: Equipe, Planejamento e Qualidade.
a) Equipe
- pessoal, alunos,
pais, comunidade, liderança, chefia
Equipe porque o
trabalho escolar não pode prescindir da consciência de ser necessariamente
realizado por equipe. Isso implica que o pessoal de uma escola precisa formar
um conjunto coeso, intimamente relacionado e com seus membros interdependentes.
Como uma orquestra, a falta de cada membro, ou de cada conjunto, provoca
diferenças substanciais no resultado buscado. Se um membro, ou um conjunto de
instrumentos desafina ou toca diferentemente, isso vai obrigatoriamente alterar
o esperado resultado final.
Todo o grupo escolar,
pelos seus conjuntos, sabe que tem um papel a cumprir. E que todos os membros,
conjunto por conjunto não pode ficar desatento, pois afetaria o todo. Os
professores não podem ficar sem os serventes, os auxiliares gerais. Isso
levaria à quebra de um resultado esperado que é a limpeza dos espaços. O que
atingiria o trabalho pedagógico de imediato. Os serventes têm de ter
consciência da importância do seu trabalho. E assim deve ser com todos os
membros dos diferentes conjuntos que formam o todo do pessoal da escola. A
falta dos inspetores de alunos afetaria diretamente os professores e os
serventes, duplicando a carga de seus afazeres com os alunos. Não é possível
imaginar um professor tranqüilo em sua sala de aula se o seu salário está
quebrado por alguma falha da Secretaria da escola. Uma falha, qualquer que seja
ela, afetará a administração da escola se ela, a escola, não for pensada como
uma equipe.
A partir dessa
compreensão é preciso que busquemos na escola, explicitar, de um lado, as
funções de cada um individualmente, e, de outro lado, o seu papel no conjunto
parcial de que faça parte. Bem como, e isso é imprescindível, do total do
pessoal da escola.
Cada reunião deve
contar ao menos com a participação de representantes de todos os conjuntos da
escola. Seja uma reunião preparatória, ou de avaliação. Individualmente todos
devem ser chamados a se manifestar. Mas também por setores, sejam pessoal de
apoio, serventes, inspetores de alunos, escriturários, merendeiras, auxiliares
de serviço, zelador, vigia; sejam professores; sejam professores coordenadores
pedagógicos; seja a direção, diretor e vice-diretor.
Mas uma escola não é
só a equipe escolar que ali milita profissionalmente. Escola é importante
também para o aluno, que não pode deixar de ser ouvido. A escola também é uma
escolha dos pais, que precisam ser ouvidos em busca do atendimento de suas reivindicações
na medida do possível. A escola não pode se recusar também a ser sensível à
comunidade onde está inserida.
Assim, a equipe
escolar é algo mais que seus professores, que seus funcionários de um modo
geral.
A legislação diz do
estímulo a ser dado à Gestão Democrática. Com isso entende-se que todos devam
ter direito a voz, isto é, precisam ser ouvidos, mas também serem respeitados
nos seus anseios. Tanto os pais, quanto os funcionários, ou os alunos, como os
professores devem ter direito de manifestação sem constrangimentos por parte da
direção. Como também a recíproca é verdadeira. A equipe escolar não pode coagir
a direção. Isso não torna a gestão escolar mais democrática.
É preciso que os
alunos sejam levados a participar das decisões da escola. Mesmo numa escola de
Ciclo I, de 1a a 4a série, pode ser reconhecido um
Conselho de Representantes de Classe. Se um Grêmio se faz mais complexo nessa
faixa etária, esse Conselho é manifestamente importante como instrumento de
formação democrática.
Daí para a
participação no Conselho de Série ou de Classe será um pulo mais fácil. O
convite aos pais para que também participem será o passo seguinte e necessário.
Se o elemento primordial da escola é o aluno, a prioridade é o pedagógico, pela
própria função natural da escola. Assim, o ponto de maior relevância será, sem
sombra de dúvida, a definição do currículo escolar. Se os pais efetivamente têm
o direito de opinar sobre a educação escolar dos seus filhos, eles devem
participar da elaboração dele, tanto quanto os professores, e, claro, os
alunos. Se a sociedade formula o que a escola lhe deve ensinar, deverá também
participar do processo avaliativo igualmente.
Parece-nos que esse
seja o ponto vital da escola no reconhecimento da sua equipe em toda a amplitude.
Por tudo isso, a
direção, que por sua natureza já exerce uma chefia, precisa assumir sua
liderança. Muito mais do que a liderança institucional, posição em que a escola
lhe coloca, há que assumir a liderança do reconhecimento da sua competência. O reconhecimento
da liderança da direção pelo pessoal da escola deve ser resultado conseqüente
de um esforço de envolvimento. Não o envolvimento vazio de responsabilidade,
aquele que é enganador. Mas aquele que demonstra seus feitos de qualidade como
uma verdade inegável. Qualidade que afeta positivamente a todos, que nela se
reconhecem.
Essa mesma liderança,
por isso mesmo, acabará por se espalhar como uma verdade igualmente para a
comunidade. E essa liderança será apenas o reconhecimento da personificação de
uma vontade coletiva em
realização. Essa liderança é construída passo a passo. É
demorada, mesmo que a pessoa do diretor de escola tenha carisma, demonstrado
por seu modo de ser peculiar. Essa construção não pode estar baseada apenas
nesse carisma pessoal, pois essa pode ser rapidamente perdida, já que se
estabeleceu por condições puramente emocionais. É preciso que ela esteja
consolidada, o que exige tempo e trabalho.
b) Planejamento
- administração,
acompanhamento, controle, avaliação
Dizíamos de uma
tríade a sustentar a escola, a formar a sua base. Além da consciência de
equipe, imprescindível é que se acredite que na escola nada pode ser feito sem
Planejamento. Isso não quer dizer que não devamos estar prontos a improvisar,
mas que o improviso deve ser algo a ser esperado e medido em suas
possibilidades de alcance.
É claro que
precisamos da flexibilidade em permanência. Mas não podemos deixar a escola a
sua sorte, à sorte da intempérie. O planejamento é absolutamente necessário
desde a sala de aula até à sua direção geral.
Se a escola é o
modelo, o exemplo da educação sistematizada, isso significa que seu fazer
precisa ser sistematizado, organizado, planejado. Se temos objetivos a serem
alcançados, devemos propor ações, atividades, práticas, que conduzam ao
resultado, às habilidades e aos conhecimentos a serem adquiridos pelos
educandos. Realizadas essas ações, essas atividades, seus resultados devem ser
avaliados em permanência.
Planejamento, execução, avaliação são um
trinômio a ser respeitado, e seguido, sem cessar na ação escolar. Na escola as
ações aleatórias são extremamente perigosas, pois sem controle. E o que é sem
controle leva a riscos. Se educação é também a ação cultural, o ato
essencialmente humano, não podemos oferecer riscos neste caso. Mais ainda em se
tratando de crianças, adolescentes e jovens, como é especialmente a situação da
escola de Educação Básica. Todas as suas ações devem ser primordialmente
planejadas.
Planejamento na
escola não é um fato exclusivo do Professor. É elemento necessário ao
Administrador, como ao Coordenador Pedagógico.
Educação é fato caro.
Seu custo não é barato, assim, cada verba, cada dotação, deve ser bem calculada
em sua aplicação, mormente sendo o caso do dinheiro público. A ação do conjunto
deve ser bem apreciada. Se for gasto mais com material de limpeza do que com
material pedagógico, algo está equivocado na escola. Se alguns professores
gastam mais do que outros e essa diferença é gritante temos um demonstrativo de
deficiência na coordenação. Se gastamos mais em equipamento para a direção do
que com os alunos algo está exigindo uma atenção maior nessas aplicações. Se
gastamos bastante com equipamento pedagógico e o resultado não está sendo o
esperado, cabe à direção, apoiada pela coordenação, uma atuação vigorosa para
detectar onde está a falha e como corrigi-la.
Enfim, o planejamento
implica num objetivo a ser buscado. Busca que há de ser feita com uma equipe
dada, identificada a população alvo desse objetivo, o alunado. Isso, depois de
estabelecido o seu diagnóstico, situação, condições e problemas a serem
solucionados. E com o planejamento faremos isso, definindo quais os métodos
escolhidos e suas atividades, práticas e teorias.
As equipes escolares
tendem a entender que todo registro escolar é mera burocracia. Esse é apenas
mais um dos pontos que caracterizam a Educação Básica como um processo montado
inteiramente na memorização. A nossa sociedade não é gráfica, não escreve, ela
é ágrafa, na expressão de Antonio
Houaiss, em artigo divulgado em 1982. E essa reserva em escrever, esse medo da
escrita, por parte também dos professores, é rapidamente passada para os
alunos.
Há como que um
entendimento generalizado de que não se deve escrever. Que até o fim da
Educação Básica o aluno que foi reduzindo sua expressão escrita, deixe
definitivamente de escrever. Como se ele devesse escrever apenas até a 2a
série. Essa compreensão silenciosa é suficientemente forte e generalizada para
que professores e alunos deixem de escrever até o mínimo.
Assim, um professor
não vai registrar as ocorrências em sua sala de aula. O que será tido como
burocracia. E depois não vai lembrar do dia, da ocasião e do motivo que teria
levado o aluno a repetir alguma atitude, por vezes grave. Tudo pode ser
memorizado, ainda acreditam alguns.
Do mesmo modo
planejar a aula passa a ser um fenômeno invertido. Em lugar de ocorrer antes,
será escrito, muito sinteticamente, depois do ato ser praticado. A aula passa a
ser um ato rotineiro, estritamente empírico, sem objetivo refletido. Isso, inconscientemente,
vai minando o professor, que vê sua prática se esvaziar de sentido e de
resultado. O máximo de criatividade passa a ser a imitação quando ocorre de
surgir um exemplo circunstancial.
A frustração da falta
de resultados da ação não visualizada antecipadamente leva ao desgaste e ao
cansaço da profissão. E não se trata apenas de um mal do professor, é um mal da
escola de Educação Básica.
Os diretores
contentam-se em ir às escolas e viver o dia-a-dia. Os projetos mais distantes
são de uma semana, para cumprirem um evento. Sem projetos, tanto ou mais que os
professores, frustram-se e o peso da profissão desaba sobre seus ombros, como a
esmagá-los. Esse círculo persiste há muito tempo. E exigirá novas práticas e
muito tempo para ser modificado. Mas precisa ser modificado. E a modificação só
pode estar na busca pela qualidade mirada como objetivo.
Se o professor não
mede as suas práticas, se o diretor de escola, por sua vez, também não mede as
suas, não há o que fazer, não há o que cobrar, não há o que exigir, não haverá
o que avaliar na escola. Se não se espera resultado do fazer escolar, qual a
função dessa escola? Então, por que se estabelecer algum tipo de controle?
Se a escola não
dispõe de qualquer tipo de controle sobre seu pessoal, se especialmente os
professores podem fazer ou deixar de fazer alguma, qualquer, prática
positivamente conseqüente, sem que isso nada resulte, como controlá-la? Onde
haverá gestão escolar se sua administração não possui qualquer controle do que
é feito? Essa escola é estruturalmente inconseqüente, ineficiente e ineficaz.
Esses são pontos a
serem vigorosamente combatidos. A escola precisa voltar a assumir suas
responsabilidades pedagógicas. E a direção da escola precisa voltar a ter o
controle sobre o feito escolar. Sem isso, a escola pública torna-se apenas uma
repartição ocupada por funcionários sem responsabilidades, que por isso mesmo
não poderão ser cobrados em nada.
c) Qualidade
- sujeito, objeto,
objetivo, resultado
Não é possível um bom
planejamento na escola se ele é realizado exclusivamente na sala do diretor, a
portas fechadas. O planejamento escolar só pode existir se é trabalho coletivo.
A realização conjunta assumida desses dois elementos do tripé, planejamento e
equipe, é que podem levar ao terceiro elemento a ser esperado, a qualidade.
Equipe e planejamento não podem existir sem
um objetivo a ser alcançado. Esse objetivo é a Qualidade obrigatoriamente.
Se tratamos de
educação, e em especial a escolar, tendo reconhecido o significado do trabalho
de equipe, sob uma liderança, com objetivos claros, o que temos a nos propor é
a qualidade dos resultados.
E a qualidade na
escola é a qualidade do resultado pedagógico fundamentalmente. Se toda e
qualquer ação na escola visa o benefício do aluno, é para ele que devemos
proporcionar a qualidade. A finalidade da escola não pode ser relegada,
secundarizada, esquecida.
Deve estar registrado
por escrito no Plano de Gestão da escola que a dinâmica de trabalho funda-se em
outro trinômio: Gestão Pedagógica, Gestão Administrativa e Gestão Financeira.
A primeira, a questão
pedagógica, é a determinante. As demais, a administrativa e a financeira, devem
adequar-se a ela. Toda escola deve trabalhar voltada para o resultado que é o
seu fazer pedagógico.
Uma escola, como
qualquer empreendimento digno desse nome e esforço, deve buscar o sucesso. E o
sucesso do processo ensino-aprendizagem, fim da atividade escolar, é a
qualidade do que é realizado. Qualidade é o fim a que devemos nos propor na
Escola. É o que devemos objetivar em conjunto, é para o que nos devemos voltar
em nossos propósitos antecipadamente delineados, ou seja, planejados.
E não há porque se
buscar a qualidade apenas nas escolas de 5a a 8a séries
do Ensino Fundamental ou nas de Ensino Médio. As escolas de Ciclo I, de 1a
a 4a séries do Ensino Fundamental devem igualmente buscar essa
qualidade em instalações e equipamentos condignos.
Sem essa base, as
séries seguintes não serão plenamente realizadas. Como esquecer, por exemplo,
que a qualidade do ensino das crianças pode passar pela manutenção, mesmo com
dificuldades, de uma bandinha, de um conjunto de flautas doces ou de um coral
infantis.
2.
Processo Participativo
- direitos, deveres, responsabilidades
Como dissemos, um dos elementos
primordiais na visão da gestão da Escola está na identificação de seu pessoal
como membros de uma equipe. E para tanto a sua participação em todo o processo
se faz fundamental. Isso significa, participar da elaboração da proposta
pedagógica da escola, que é o ponto inicial. E assim, por via de conseqüência,
dos planejamentos, das execuções e das avaliações. A participação em qualquer
parte do processo não pode ser negada ou omitida. A equipe escolar abre o
direito a cada um de se manifestar sobre todo e qualquer aspecto da escola.
A
participação é aspecto a ser valorizado. Uma atitude seria reconhecer, ou mesmo
premiar as sugestões criativas dos membros participantes.
E
por participação não nos podemos restringir apenas a ouvir professores e
funcionários da escola. Os alunos igualmente devem ser ouvidos nesses atos
escolares. E, até por isso, os pais devem ser ouvidos e respeitados nos seus
propósitos.
3.
Envolvimento da Comunidade
- chamamento, confiabilidade
O envolvimento da comunidade em todas
as fases do processo educacional sempre deve ser uma preocupação da gestão da
escola. Se a escola pretende trabalhar em equipe, a sua comunidade interna
precisa ser chamada a participar e possibilitada de modo efetivo disso.
Importante é que nessa comunidade sejam compreendidos os pais, que têm o
direito de escolher a melhor educação para seus filhos. Esse direito-dever não
pode ser escamoteado. Ao mesmo tempo em que cobramos a participação dos
responsáveis, devemos garantir a manifestação das decisões.
Se isso é feito, não
há porque deixar ausente a comunidade externa, a moradora do Bairro, que
identifica na Escola um centro de irradiação de cultura, além da instituição
educacional. Os eventos devem ser abertos, até porque sempre têm repercussão e
sempre buscam trazer uma mensagem positiva. A escola deve buscar atender os
reclamos da comunidade e receber em reuniões as suas reivindicações, abrindo
seus espaços para tal. Há um orgulho que se fará sentir e se ampliar na
comunidade pelo respeito da “sua” escola. O caminho pode ser longo, mas quando
iniciado busca sempre frutificar.
Por
isso deve ser buscado alcançar a plenitude da presença dos pais nas Reuniões de
Pais e Mestres, bem como em atividades afins. Isso ocorrendo para que não sejam
obstáculos para os passos seguintes, devemos partir para a implantação dos
Conselhos Participativos.
Os Conselhos de Série
ou de Classe praticavam inicialmente os debates com a participação apenas dos
professores. Observe-se que era assim que o sistema tradicional o aceitava. Com
o correr do tempo, nos últimos anos foram se generalizando pelo País os
Conselhos que contam também com a presença dos alunos, além dos professores. A
presença dos alunos foi uma conquista. Logo mais adiante, nos dias de hoje, já
estamos podendo ver os Conselhos de Série ou de Classe contando com a
participação dos pais também. A participação dos pais é na atualidade uma forma
de ampliar o processo educativo para além dos alunos da escola. Educação
escolar é um ato social.
Os Conselhos de Classe
ou de Série que recebem a participação de pais, além dos alunos, devem ter
claro o seu papel de discutir sobre o trabalho pedagógico realizado e seu
resultado na classe e na escola.
4.
Resultados a Serem Buscados
- informação, formação
Quando falamos de Qualidade no que
pretendemos de nosso fazer de Ensinar, estamos nos referindo a um resultado
possível e esperado. Qualidade na relação ensino-aprendizagem, qualidade na
formação de habilidades, qualidade no aprender a aprender, qualidade na produção
de cultura, qualidade no aprendizado da cidadania, da tolerância e da
solidariedade, qualidade na sensibilidade da apreensão das Artes, qualidade no
pleno desenvolvimento do educando.
Nosso trabalho na
escola não se pode fazer isolado, deve solicitar a participação dos pais, da
comunidade, na socialização do alunado. Devemos participar da conquista do
espaço escolar por um melhor equipamento de infra-estrutura, com instalação de
sala de leitura na biblioteca, de sala de artes, de sala para audiovisual, sala
de Coordenação, para estudo dos professores, com equipamentos, suportes e mesmo
computador para planejamento e elaboração de atividades, acessíveis aos
professores, o que hoje é uma realidade básica. Como deixar de equipar todas as
salas com armários, painéis e material pedagógico acessível aos alunos
diretamente. Termos uma boa biblioteca para professores com videoteca, mapoteca
e assinatura de jornais e revistas, de informação geral e especializada é uma
necessidade também para os professores das séries iniciais. Como deixar que as
crianças hoje deixem de dispor de mesas e bancos para fazerem suas refeições e
merendas com educação e conforto, isso é elemento de educação de cidadania, com
respeito e dignidade. A escola de 1a a 4a série também
precisa dispor de quadra poliesportiva, que precisa ser usada regularmente
pelos alunos. A escola que puder dispor de monitores ou professores, em
parcerias, para trabalhos de instrução e treinamento, deve abrir suas quadras
inclusive nos fins de semana, com turmas esportivas, à comunidade. Bem como a
escola deve propiciar cursos e palestras para a comunidade.
A escola deve ter uma
proposta de capacitação de pessoal, sejam professores, sejam funcionários.
Capacitações essas identificadas nas avaliações do trabalho realizado pela
equipe, como identificadas também pela observação das lideranças.
Não é mais possível
esperar, a direção da escola, liderando a equipe escolar, deve buscar conseguir
cursos de informática para funcionários e professores. Além dos alunos, ninguém
mais pode deixar de ser preparado para o domínio dessa linguagem. Não há mais
que se esperar os cursos oficiais do poder público.
As capacitações para
todo o pessoal devem ser realizadas independentemente de iniciativas oficiais.
Não apenas capacitações e atualizações sobre o processo pedagógico, mas
igualmente devem ser agendados cursos de segurança, para funcionários de apoio,
e curso de rotinas administrativas, para o pessoal de Secretaria.
Como deixar de visar
à manutenção de colaborações com as escolas vizinhas para onde serão enviados
os alunos nas séries seguintes. Isso, até mesmo para avaliar o aproveitamento
de seus alunos que irão para elas.
5. A
Diferença
Basicamente
todas as escolas têm uma proposta pedagógica e um plano de gestão. Projetos que
devem buscar cumprir. Projetos que devem dirigir-se em primeiro lugar ao aluno,
foco de seu interesse maior. Para isso, devem ser oferecidos à comunidade
externa, aos pais dos alunos, aos seus professores, aos seus funcionários. Tudo
deve ser tentado para levarmos o aluno ao sucesso. O seu sucesso é o sucesso da
equipe, que é o sucesso da escola. E o sucesso da escola é a educação que se
volta para a construção da felicidade de todos.
Assim, cada evento na
escola precisa ter sua razão de ser, seu objetivo pedagógico. É preciso esforço
e deve haver empenho da equipe. Os resultados positivos sempre acabam
chegando.
Se para conseguirmos a presença e o
apoio dos pais tivermos de promover eventos artísticos e culturais, que sejam
feitas essas festividades. De todo modo, os encontros de pais e mestres devem
sempre ser alegres.
Muitas vezes, nós,
professores e diretores, em nossa ansiedade, de querer ver rapidamente o
resultado do trabalho, cobramos da equipe ou das famílias uma participação que
por anos eles desaprenderam. Desaprenderam como alunos e como profissionais,
como desaprenderam como pais e como cidadãos. E uma agressividade surda
perpassa por todos nós. Aprendemos a ter medo de falar, impomo-nos uma forte
auto-censura. Buscamos um consenso inexistente e impossível, que é apenas uma
forma ditatorial de imposição da vontade do mais forte. Em conseqüência, ou
agredimos verbalmente ou vamos às vias de fato, ou nos agredimos com a acidez
estomacal corrosiva, mas silenciosa.
Não há que se acomodar
na impotência da espera. À espera de que alguém mude, de que o governo mude.
Temos de fazer acontecer. “O caminho se faz ao andar”, como já ensina em seus
versos o poeta espanhol Antonio Machado.
A solução é o
aprendizado do ouvir. Tolerância. Ser capaz de se colocar no lugar do outro,
tentar entendê-lo. Ser generoso o suficiente para tentar orientá-lo a um melhor
caminho. Isso é tão claro, toma tempo. Cansa, exige paciência, mas é o melhor
exercício de uma técnica de vida chamada persistência. Enfim, generosidade e
persistência, concomitantemente são elementos fundamentais na ação de quem se
pretende educador. É o melhor, senão o único, caminho para buscarmos a
qualidade final no resultado do nosso ofício.
Referências
Bibliográficas
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VALERIEN, Jean. Gestão da Escola Fundamental: Subsídios para Análise e Sugestão de
Aperfeiçoamento. São Paulo: Cortez; Paris: UNESCO; Brasília: MEC, 2001.
Toda Escola é sua Cultura
Toda Escola é sua Cultura
Mesmo que não o saibamos
Não o saibam os pais
Nem
o saibam os mestres
Mesmo que tentemos seguir
Um currículo nacional
Esquecidos dos valores locais
Mesmo que tornemos a escola
Uma repartição pública
Com serviços burocráticos
Mesmo que escondamos
Nossos mais belos anseios
Liberando o sistema da ordem
Mesmo que passemos o frio
Saber que se torna vazio
Por esquecer o afetivo
Mesmo que ignoremos
O prazer de buscar o saber
Curiosa natureza humana
Mesmo que ousemos afastar
A mais íntima compreensão
De pretender a descoberta
Uma escola é a sua cultura
Associados pais e mestres
Entorno da mesma criança
Do doce saber ensinar e aprenderComenda com os filhos, Rodrigo e Juliana |
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